segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Salvando Textos

Eu já tinha dito que esse negócio de se descrever é meio complicado, mas vamos lá tentar de novo:

Atualmente, eu não me reconheço em mim. Eu não sou eu, eu sou o que eu nunca quis ser, mas acabei sendo. Aprendi sobre o que eu nunca quis aprender. Sei que estou no rumo errado e não faço nada para impedir isso. Sei onde isso leva, e não quero estar lá, mas continuo na direção. E tudo isso acontece não só porque eu não me vejo mais em mim, mas também porque eu tenho muito mais certezas das coisas que não quero do que das coisas que quero.

Desde os 16, 17 anos que eu chamo isso de Demônio Interior do Atalho. Como podem ver, ele tem nome e sobrenome e funciona assim:

Você decide seguir um caminho, e o Demônio Interior do Atalho lhe indica algo que pode não ser o caminho, mas ele te garante que vai valer a pena o atalho. Você é jovem e idiota, então segue. Logo ele te indica o atalho do atalho, e o atalho do atalho do atalho, e assim vai. Você continua seguindo, achando que no final isso vai fazer algum sentido, até o momento que você acha que já está tempo demais procurando atalhos e decide voltar até a rota principal.

"Que rota?", Pergunta o Demônio Interior do Atalho. Quando ele pergunta isso, lança um feitiço que acaba com a sua vida. Ele pergunta de propósito, porque já sabe que o caminho foi a tanto tempo abandonado, que já foi esquecido. Você não sabe mais o que quer.

E isso não é exatamente uma floresta densa. Pode ser algum canto qualquer, onde você se pergunta:

"Faz sentido estar aqui?" - Não
"Tem como sair daqui?" - Não
"Tem para onde ir?" - Não

E aí você não sabe se vem, se vai, se volta, se pula da janela, ou se pega um litro de álcool, espalha por todo o atalho e ateia fogo, usando seu próprio corpo como pavio, lógico.

É aí que o Demônio Interior do Atalho sai e vai ganhar sua reconpensa no inferno. Ele conseguiu mais um.

E você, perdido no meio daquele atalho de gesso, divisórias e vidros, aproveita que ninguém está olhando, senta no chão, e chora o choro mais sincero do resto de sua vida.

Porque tudo que você tem é apenas não saber o que quer, e sim saber o que não quer. Grande coisa.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Manual do Bom Suicida

- Antes de mais nada, o Bom Suicida não escreve carta de despedida. Isso se escreve na demissão, etc. Alguém é patrão da tua vida? Não né! Então de onde você tira essas ideias loucas? Quem escreve carta de despedida na verdade não é deprimido ou coisa assim: só quer aparecer. Se a pessoa está tão insatisfeita com a própria vida, ela vai lá e tira. Isso de escrever cartinha sempre combina com quem não teve a atenção necessária e resolveu se vingar. Normalmente as cartas tem um tom de confortar, mas no fundo a pessoa escreve para imaginar o leitor sofrendo enquanto lê. Portanto, suicidas sem carta tem o meu respeito, suicidas com cartas são emos extremos.

- Além disso, vamos combinar que corre sempre o risco do suicídio ser malsucedido e a carta ficar. Já aconteceu com um amigo meu, ele se enfiou de remédios mas alguém lavou o estômago dele antes. Ficou no hospital enquanto a carta era lida por todos. Constrangedor.

- O Bom Suicida também não tem o desprazer de cometer um comportamento de extrema feiura: Ficar falando aos quatro cantos que vai se matar. Você pode até contar para os mais chegados, já que ninguém é autossuficiente em controle, mas ficar postando no Fotolog e no Blog, ridículo. Conheço gente que já tentou e nunca ficou falando disso no blog.

- Também não prepara cenários; sabe que morreu e nada mais importa. criar cenários é o mesmo caso de ficar imaginando a cena de encontro do corpo. Eu não consigo ver isso sendo feito por outra pessoa que não seja antisocial.

- Resumindo, o Bom Suicida é aquele que depois que vai embora é que você percebe todas as pistas de que isso poderia acontecer.