quarta-feira, 24 de junho de 2009

Paixão e Literatura, Fósforo e Gasolina

Existem pessoas das mais variadas que podem ocupar pedaços do seu corpo. Você já deve ter entregado seu coração para muitas pessoas habitarem, e muitos inquilinos quando vão embora levam chuveiro, lâmpada, deixam uma infiltração na parede e você precisa passar por uma reforma no imóvel antes de entregar as chaves ao próximo, como se seu tórax fosse um pequeno Mato Grosso.

Você pode ter pessoas rodando na sua cabeça, e que a imagem delas se mistura entre as memórias e os desejos. Você deseja tanto aquela pessoa, pensa tanto nela, a inclui em tantas situações que gostaria... De repente, você nem lembra mais o que de fato aconteceu e o que de fato você quis que acontecesse. Você passa a lembrar do dia em que entregou as chaves do seu coração e essa pessoa foi morar dentro dele, colocando vasinhos de flores no parapeito da janela, mesmo que isso nunca tenha ocorrido.

Claro, não podemos esquecer daquelas que ocupam seus testículos (ou ovários), que despertam em você os tais instintos mais primitivos do desejo, mas sabe que depois de saciada a sede, não resta mais nada.

Mas hoje estamos aqui para falar das pessoas que você em vez de dar o coração, a cabeça ou as bolas, entrega o sangue. Esse é o tipo mais perigoso de paixão.

Cada hemoglobina é um andarilho que nasce com o propósito de se aventurar por cada célula do seu corpo, pulsando sempre, para lembrá-lo que ele está sempre ali e em todos os lugares. E fervendo, quando sabe que você precisa desse calor. Entregar essas hemoglobinas à alguém é entregar o seu calor, entregar o líquido que sustenta você. E toda essa viagem, esse zigue-zague no meio de artérias, vasos capilares e veias, faz com que a hemoglobina se comporte de formas muito distintas uma das outras. Essa paixão é uma profusão de sentimentos mil, Bipolar. Uma paixão que pode ser derramada algumas gotas, alguns pedaços, e mesmo assim, continuar correndo. Você torna uma pessoa vampira, pois seu sangue já pertence a essa pessoa, e você só espera e deseja que ela se aproxime, acaricie seu pescoço com delicados dedos, e nos morda para beber nosso sangue.

Mas tudo que você tem é uma pessoa que passa os dedos no seu pescoço sem desejar te morder. Não, você não está louco, você não criou aquilo do nada. Por mais que o sangue pulse em seu coração, não foi ele que falou de sentimentos com você, por mais que ele traga oxigênio ao seu cérebro, não foi ele que criou aqueles convites e aquelas intenções, nem foi ele que criou aquelas imagens estáticas e em movimento, ainda gravadas e arquivadas, que tanto fizeram bem ao desejos de seus testículos ou ovários de gritar. Você não está louco, o mundo é que está. E a paixão, veja você, também pode ser pegadinha.