sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Walk the Line

Eu lembro exatamente do dia que eu vi o paraíso. Eu lembro onde eu estava, como eu estava e porque eu tinha visto o paraíso. Na verdade, é um pequeno equívoco meu (e proposital) chamar de "O" paraíso. É um engano da nossa tradição católica, ou qualquer outra que atribua o paraíso no singular. Mas utilizei esse recurso talvez por falar nesse texto especificamente sobre um paraíso em particular. Não sei. E como você já deve ter percebido por toda essa enrolação, estamos em um daqueles textos que de tão sinceros, é proibido apagar o que está sendo escrito, o que sai no monitor, saiu e pronto.

Esse paraíso me marca por ser um dos que eu ouvi apenas falar e nunca conheci. Só ouvi maravilhas sobre ele. Paraísos que se permitem estar exibidos, mas que a visitação é de poucos e raros escolhidos (ou de muitos - menos você - o que dá quase no mesmo).

E desde então você deseja estar no paraíso, saber como a grama de lá de molda aos seus pés, de que forma o sol de lá queima a sua cara. Mas o paraíso onde o sol parece brilhar mais forte não lhe permite o acesso.

Não que você o veja de um distante inferno. Você está em uma paraíso e não tem o absoluto direito de negar o paraíso que mora. Mas por mais que você goste de sorvete de chocolate, comer isso toda hora o deixaria enjoado. E o outro paraíso você já ouviu falar por mais tempo. Sim: cruel, mas ninguém falou que ironia era uma exclusividade infernal.

E aí, 0 paraíso permanece incrivelmente tão belo quanto o dia que você ouviu falar pela primeira vez, até porque não temos a cruel e deformadora rotina agindo.

E sacrilégio dos sacrilégios, o paraíso que você não conhece, que você idealiza... permite a entrada de outros. Outros esses que nem fazem questão do paraíso assim. Você não entende. Mas não é para entender, são contingências, meras e simples e boas e devastadoras contingências.

Mas ninguém falou que ironia era uma exclusividade infernal.